(A Guarda, Guarda, XIII (557), 17 Mar. 1917, 1, col. 5)
É já uma realidade! Até ao dia da partida, talvez até ao momento em que o vimos desapparecer deante dos nossos olhos, não acreditamos que elle fosse a caminho de França prestar os seus serviços como capellão militar. E como nós, pensavam os seus mais queridos amigos.
Era tao rebelde a ideia de nos vermos privados da sua companhia, que o espirito e o coração repeliam absolutamente a ideia de ausência e de separação. O facto é porem consunado (sic), e embora com reluctancia temos de nos curvar perante a realidade.
O companheiro querido c saudosíssimo amigo deixou-nos. O seu zelo apostólico, a sua ancia de fazer bem o seu amor á causa de Deus e da Patria, levou-o a outro campo de acção mais sublime, onde a par do bem das almas elle pode offerecer a Deus maiores sacrifícios e até o mais heróico de todos o sacrifícios a propria vida.
Que bello e edificante exemplo para todos nós. Nada o intimidou ou afrouxon (sic) no seu propósito.
Nem a família que elle amava desveladamente, nem os seus amigos que o rodeavam e que junto d’elle vertiam lagrimas saudosas, conseguiram desvia-lo do seu intento. O seu sembelante conservava-se sempre risonho e sereno, não porque lhe fossem indifferentes todas estas manifestações, mas pela aspiração que tinha de praticar a virtude em mais alto grau, de prestar a Deus serviços mais valiosos. Com que generosidade elle soube sacrificar tudo, resistir a todos os motivos humanos que pudessem embargar-lhe o passo no caminho do bem e na pratica da virtude.
Se outras provas não tivéssemos, bastavam estas para aquietarmos da sua rara virtude. Modesto como os mais modestos, desde o começo da resolução guardou o mais asbsoluto (sic) segredo e fugiu a toda a espécie de xhibicionismos. Lá foi, certamente chamado por Deus, prestar serviços mais elevados e próprios do seu grande merecimento. Nós, cá ficamos vertendo lagrimas de saudade que só terão fim com o seu regresso.
Peçamos a Deus que no-lo traga cheio de gloria, saciado como seu coração aspira, de praticar o bem; e então elle continuará nesta cidade e nesta diocese a seu apostolado com mais ardor, se isso é possivel. É este o seu desejo, é esta a sua vontade, como poucos momentos antes de partir nos manifestou.
Sejamos generosos como elle foi, e offereçamos a Deus pela sua felicidade e pelo (sic) felicidade da Patria, todos os sacrifícios que nos traz a sua ausência e todas as lagrimas que a saudade nos faz chorar. Apesar de só á ultima hora se saber da partida, a sua casa accorreu uma multidão de amigos que com as lágrimas nos olhos lhe davam um abraço de despedida, implorando uns a sua benção pedindo outros uma lembrança como relíquia do que era seu amigo protector ou director.
Á estação do caminho de ferro foram despedir-se do illustre e virtuoso sacerdote Sua Ex.ª Rev.ma o Senhor Bispo da diocese e os amigos mais íntimos.