(A Guarda, Guarda, XVI (720), 11 Dez. 1920, 1, col. 4-5)
Cumpre-nos o agridoce prazer de comunicar aos nossos leitores a noticia que encima estas linhas. É doce para todos aquelles que o conhecem e apreciam e estimam, vê-lo subir á alta dignidade episcopal, merecida pelas suas qualidades e virtudes. É doce para a terra que lhe foi berço, para a diocese, onde até agora se têm exercido os seus talentos e virtudes sacerdotaes, vêr que esses talentos e virtudes mereceram que sobre um seu filho illustre, que sobre um dos seus sacerdotes mais distinctos se realisassem as attenções e preferencias da Santa Sé, sempre justiceira nos seus juízos, sempre prudente e criteriosa na sua escolha.
Mas é agridoce para os seus companheiros e amigos dedicados, que o seu tracto afável sabia conquistar, para os admiradores das suas qualidades e virtudes vè-lo partir d’esta terra, onde a sua convivência amável, a sua palavra, os seus escriptos, o seu exemplo lhe haviam grangeado uma justa athmosphera de simpathia e affecto.
Não queremos, para que se não diga que a nossa amisade nos cega, repetir encomios e louvores ás qualidades que o tornaram credor da merecida distinção com que acaba de distingui-lo o chefe Supremo da Egreja; diremos somente que não receamos dar os parabéns á diocese que vae tê lo por seu pastor, porque n’elle concorrem todos os dotes humanos e todas as virtudes de dedicação ezelo sacerdotal que podiam n’esta hora impo-lo para o difíicil múnus episcopal
Ha porem, na elevação do nosso distincto amigo, um aspecto que nao queremos deixar de salientar. É que a nomeação do Dr. Patrocínio Dias, do chefe dos horoicos capellães militares do C. E. P., cuja historia continua ignorada por quasi todos, oculta pela modéstia dos seus protagonistas, representa, da parte da Santa Sé, a aprovação solemne dada a essa obra de heroica abnegação e sacrifício que foi realisada pelos nossos capellaes militares na Flandres.
Essa obra que muito poucos conhecem em Portugal e que tão alta se elevou, que mereceu louvores e prémios aos próprios governos, é bem conhecida lá fôra. Os heróicos capellaes com o Dr. Patrocínio á frente, escreveram nas trincheiras da Flandres uma epopeia do patriotismo e fé.
Todos os chefes militares do C. E. P., ainda os mais insuspeitos, prestam aos capellães militares e nomeadamente ao seu chefe o Dr. Patrocínio Dias, os mais rasgados elogios, reconhecendo que a elles se deve na maior parte, a heroicidade de que o nosso exercito deu provas no campo da grande guerra. A escolha da Santa Sé obedece pois ao propósito evidente de dar a essa obra de heroicidade uma consagração solemne.
A Santa Sé honrando o Dr. Patrocínio, tem o intuito manifesto de honrar a heroicidade de que o exercito portuguez deu prova nas trincheiras da Flandres. Não é pois somente como catholicos e amigos que jubilosamente cumprimentamos o Dr. Patrocínio, mas também como patriotas, por vermos que a Santa Sé não perde occasiâo de manifestar o apreço com que distingue qualquer feito digno de nota, praticado por Portugal.
E cremos bem que a diocese de Beja vai rejubilar vendo á sua frente, como Bispo, um sacerdote que os poderes públicos condecoraram ainda ha pouco como patriota e a Santa Sé acaba de escolher pelos seus merecimentos e virtudes.