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Notas biographicas do novo Prelado

Nascido e creado num meio tão impregnado de piedade e sentimento christão é o proprio ambiente da família.

Padre José do Patrocínio Dias, à direita

Arquivo Histórico CODC

(A Guarda, Guarda, XVII (746), 11 Jun. 1921, 1, col. 4-5)

Nasceu S. Ex.ª Rev.ma, na freguezia de S. Pedro da cidade da Covilhã, Diocese da Guarda, no dia 23 de Julho de 1884, contanto portanto, actualmente, trinta e sete annos incompletos, e é filho da fallecida Ex.ma Sr.ª D. Claudina dos Prazeres Presunto, senhora virtuosíssima que no meio piedoso da Covilhã soube honrar o seu logar, e do Ex.mo Sr. Claudino Dias agostinho e Rosa. illustrado e digno professor da Escola Central da Covilhã de que por vezes tem sido regente, e inspector escolar, cidadão venerado por todas as classes sociaes do seu meio, e por todos respeitado como modelo de virtudes christãs.

Nascido e creado num meio tão impregnado de piedade e sentimento christão é o proprio ambiente da família que começa a preparação do futuro Bispo. A fé viva de seus paes e dos que o cercam impõe-se-lhe, e deante de tal exemplo a vocação do senhor define-se e acentua-se com a edade.

O académico

Em 1895 iniciado o seu curso de preparatorios, tendo conseguindo prémios em todos os annos. Com os seus primeiros triunphos literários coincidem tambem os seus primeiros e mais abundantes trabalhos de apostolado, e quando em 1902 vem matricular-se na Faculdade de Theologia [col 2] da Universidade de Coimbra, não é já um caloiro vulgar que transpõe a «porta ferrea» mas alguém com o seu nome subscrevendo abundantes paginas de apostolado literario.

Na universidade de Coimbra, e cursando a Faculdade por todos tida como a mais exigente, mostrou o futuro Prelado como eram vastos os seus recursos espirituaes. Á exigência da Faculdade acrescia ainda a circunstancia de ir encontrar-se nos bancos da Universidade com o primeiro curso em que entravam as melhores inteligência apuradas nos Seminários, e que pelas reformas Universitárias podiam frequentar e frequentavam a Theologia Superior da Faculdade. É n’um meio assim exigente e difficil, que Sua Ex.ª Rev.ma consegue salientar-se desde os primeiros annos, concluindo o seu curso com distincção nas cadeiras do 4.º e 5.º anno, e obtendo a informação final de Bom com 15 valores.

Durante a sua vida Universitária tomou parte em toda essa movimentada campanha que marca o inicio da organização da Mocidade catholica portugueza. Pertence ao grupo decidido de rapazes catholicos que com Francisco de Menezes Cordeiro, Correia Pinto, Leite de Amorim etc., fundaram o C.A.D.C. que tão notavel logar havia de ocupar na vida catholica de Portugal.

Foi Vice-presidente da Conferencia Academica de S. Vicente de Paula, e Assistente da Congregação Académica dos Filhos de Maria, por cujo desenvolvimento trabalhou com afincado carinho, entrando na fundação da tão acreditada revista académica de Coimbra os «Estudos Sociaes». Concluía, por esta forma, em 1907 a sua vida academica na Universidade de Coimbra, tendo aproveitado bem o seu tempo, quer na sua preparação e cultura scientifica, quér na sua cultura moral e piedosa, adextrando-se com egual cuidado para a acção em todos os ramos do Apostolado.

São essas qualidades, assim educadas, que o recommendam ao Arcebispo, D. Manuel Vieira de Mattos, quando este saudoso Prelado busca os homens de que tem de cercar-se para levar a effeito a reforma e modernização dos seus Seminários, e é já ao professor do Seminário da Guarda que o sr. Arcebispo confere a ordenação sacerdotal em 1907.

O sacerdote

Celebra a sua primeira missa em 30 de Dezembro de 1907, e, já então, á sua festa se associa toda a cidade da Guarda, estando ainda na memoria de todos o interesse com que se esperava a sua primeira missa.

Começou logo a sua vida de apostolado sacerdotal, em que tanto devia evidenciar-se. Dois annos professor no Seminário do Mondego, é com saudade que os seus collegas o vêem partir para a parochialidade da freguezia de S. Vicente d’esta cidade, onde egualmente deixa as maiores saudades.

Neste logar a sua acção não conhece fadigas nem cansaços, entrando em todas as obras de levantamento moral e religioso do meio christão, tanto na cidade da Guarda, como por toda a diocese. Foi notável sobretudo a sua acção como Secretario Geral do Congresso das Agremiações Populares Catholicas, que se realizou em 1908 na Covilhã. Assiduo collaborador do actual Sr. Arcebispo d’Evora, tem também o seu nome ligado a muitos dos trabalhos e esforços do que havia de vir a ser seu Venerando Metropolita.

Em 1910 é dos melhores organizadores da Peregrinação Diocesana a Lourdes, e sempre depois d’isso, em todos os trabalhos de organisação social apparece o seu nome. É nomeado notário apostolico, e a 7 de Dezembro de 1914, toma posse da cadeira de conego capitular da Sé da Guarda para que havia sido nomeado pelo actual Prelado, Sr. D. José Alves Mattoso.

Continua com este Prelado a merecer a confiança e estima que já lhe consagrava

o seu illustre antecessor, e a sua acção como cónego estende-se a todos os recantos da Diocese, onde em praticas, conferencias, sermões, retiros espirituaes etc. chega o calor da sua palavra e do seu zelo christão de apostolo. Mas quando todas essas qualidades são postas à prova é por occasião da entrada de Portugal na grande guerra. Os nossos soldados vão bater-se, vão talvez morrer longe da sua terra e quem sabe se longe de Deus tambem. São outras tantas almas que o demonio vae perder, e que é mister roubar ao demonio… E é então que surge.

O capelão voluntário

Deixa a sua terra, a sua Diocese os seus amigos em 14 de Março de 1917 e segue por mar para França. A bordo do «Pedro Nunes». São os seus trabalhos anteriores que o recommendam para o cargo de capellão-chefe, para que é nomeado por S. Eminência o Sr. Cardeal Patriarcha, de accordo com os seus collegas no Episcopado. É preciso ter acompanhado e vivido a sua acção, para poder avalia-la com alguma justiça. Bastará, porém, transcrevêr as seguidas notas com que ao commando em chefe do C.E.P. foi apontado o seu no[col 3]me para as condecorações e louvores com que foi distinguido officialmente.

a) Na organização e desenvolvimento da Assistencia Religiosa no C.E.P. – Foi o seu criterio e ponderação o mais valioso elemento de coordenação de forças e remoção de difficuldades, de modo a garantir quanto possivel os direitosda consciencia religiosa dos militares conciliando-o com as disposições legaes do Paiz.

b) Na orientação dos Serviços de A.R. na C.E.P. – Teve sempre a mais elevada comprehensão do papel do C.E.P., esforçando-se com o mais acendrado patriotismo, por valorisar as forças moraes do nosso soldado, de modo a poder hombrear com qualquer dos outros exércitos.

c) No exercício da sua missão sacerdotal – Por varias vezes desempenhou como voluntario missões arriscadas, quer acompanhando as primeiras forças de infantaria 15, no seu estagio nas linhas (Foi o primeiro capelão portuguez que entrou nas linhas de fogo) e depois a todo o batalhão, quer mais tarde no H.S.n.º1 e no H.S.n.º2 até á offensiva do 9 d’Abril.

d) No período da offensiva de 9 d’Abril de 1918 – A sua acção é sem duvida a mais brilhante entre a de todos os capelães que então foram honrados, e contudo na O. S. do Corpo a elle se não encontra qualquer referencia apesar das palavras elogiosas, e das propostas de vários relatorios a seu respeito, designadamente a do Chefe do H. S. n.º1 Coronel Medico José Agostinho Rodrigues.

O Ex.mo Coronel Gomes da Costa, fundamentando-se nessa proposta, apresentou-o á Secretaria da Guerra, para que fosse condecorado com a Medalha de Prata da classe de Bons Serviços, o que só foi levado a effeito já depois de concluída a guerra, e em vésperas da assignatura do Tratado.

e) No ultimo período do C.E.P. – Reorganisação dos Batalhões para a offensiva. – São deveras conhecidos o trabalho constante, o zelo ardente com que o Dr. Patrocínio Dias, percorria dias seguidos os Batalhões, de todos procurando levantar o Nível Moral e o espirito de Sacrifício e com que voluntariamente seguiu com Infantara 15, quando este Batalhão – em que primeiro serviu – Marchou de novo para o Combate.

Foi essa sua attitude que lhe mereceu mais um louvor – o do Major Ferreira do Amaral, commandante de infantaria 15, tão pouco prodigo em os dispensar, e que por fim acabou por vencer os próprios governos que lhe conferiram as melhores distincções. Alem da medalha de prata da classe de bons serviços, também Sua Ex.a foi condecorado com a Commenda da Ordem de Christo, e ultimamente com a Cruz de Guerra de 2.ª classe, com que por occasião das festas nacionaes aos soldados desconhecidos o governo quiz reparar a injustiça do esquecimento havido anteriormente.

Em todas as camadas sociaes com quem tem convivido conta o novo Prelado de Beja com as melhores simpathias, devidas ao seu fino trato social e ao seu caracter, e a todo esse conjuncto de virtudes christãs, que fizeram de Sua Ex. Rev.ma um verdadeiro conductor de almas.

Vae a Guarda perder mais um dos seus notáveis sacerdotes, a essa consola o recordar-se que Elle é o eleito da Providencia para o árduo e extenuante trabalho de evangelisar a tão vasta Diocese de Beja. Vê-se bem que o passado é garantia segura do que será o seu futuro.

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